quarta-feira, 6 de março de 2013

Entrevista com a roteirista do curta-metragem A Orelha de Van Gogh, Cristiane Lima:


A roteirista do Orelha, Cris Lima, nos cedeu gentilmente uma entrevista com a sua visão do processo de produção do roteiro do filme e toda a trajetória do projeto até a atual produção. Vale muito a pena conferir e entendermos uma das partes mais importantes na realização de um filme: o roteiro.

Entrevista com a roteirista do curta-metragem A Orelha de Van Gogh, Cristiane Lima:

 Como surgiu a adaptação do conto homônimo do Moacyr Scliar?
A ideia de adaptar contos do Scliar surgiu em uma disciplina voltada para a elaboração de programas radiofônicos, quando eu estava fazendo o curso de Comunicação Social – me formei em Rádio e TV. Salvo engano, a disciplina se intitulava “Linguagem, Tecnologia e Produção de Rádio”. Nessa época, li muitos contos do Scliar, para adaptar para uma rádio-novela. Gostei muito da simplicidade do conto “A Orelha de Van Gogh”(que fazia parte de um livro que levava o mesmo nome). Ele acabou ficando registrado em minha memória. Acabou que durante a disciplina adaptei contos de outros autores e o Scliar ficou para um outro momento, mais oportuno. Não me lembro ao certo quando foi que me juntei à Glauciene e ao Bassoli para retomar essa ideia, mas certamente foi uns anos mais tarde. Contávamos ainda com a colaboração de um quarto integrante, o João, que nos ajudou pesquisando imagens do pintor Van Gogh. Ele não era roteirista, mas foi um grande incentivador. Decidimos escrever o roteiro de um curta, para disputar um determinado edital (no caso, a Lei Rouanet, em 2007). Infelizmente não fomos aprovados e o projeto acabou ficando guardado por mais um tempo.

Como foi seu contato com o Scliar?
A primeira vez que tive contato com o autor foi em uma aula de literatura, quando eu ainda cursava o ensino médio no Colégio Técnico – o Coltec. A professora se chamava Lyslei e apresentou-nos uma fita cassete, na qual podíamos ouvir a voz do próprio Scliar, narrando um conto delicioso, sobre uma vaca chamada Carola! Lembro-me bem da Lyslei dizer que o Scliar era uma pessoa simples, acessível, que se dividia entre as tarefas de escritor e de médico. Era também filho de judeus. O nome do autor ficou guardado e, quando precisei escolher um conto para adaptar para o rádio, logo me lembrei dele e do conto “A vaca”.
Para os propósitos do filme, foi preciso que eu entrasse em contato com o escritor para a cessão de direitos autorais. Ele concedeu prontamente, me enviou os documentos por correio sem eu precisar insistir. Nos falamos pessoalmente apenas uma vez, quando ele veio à Belo Horizonte para participar do projetoSempre um Papo, lançando seu livro O texto ou: a vida. Glauciene e eu nos apresentamos a ele e ele autografou nossos livros. Foi um encontro breve, mas muito simpático. 

Quais as principais características que se deve levar em consideração na hora de adaptar uma obra literária fechada, para uma obra como um curta-metragem?
 Essa pergunta é difícil! O texto para mim já evocava muitas imagens, então, tentamos ser bem “fiéis” ao texto. Inicialmente, a ideia era fazer um filme em live action – e não um filme de animação. Então o que a gente precisava era desenvolver a personalidade dos personagens, para que eles se tornassem sujeitos, para que fossem críveis. Obviamente, existe um flerte do texto com uma estética fantástica, então, nossa intenção não foi fazer uma abordagem realista, mas conferir espessura ao personagem, adensá-lo, por assim dizer.

O que você acha importante ao se fazer um roteiro para que ele se transforme em um bom roteiro?
 Acho que o principal é que a imagem diga tanto quanto as palavras (ou mais do que elas). Gostaríamos que o filme não fosse verborrágico, que não fosse sustentado apenas pelos diálogos. Queríamos que as imagens mostrassem a complexidade dos personagens. Glauciene e Bassoli podem falar mais sobre isso, as contribuições deles foram decisivas na construção do roteiro.

Como se deu a sua parceria com os outros roteiristas e quanto tempo demoraram em finalizar o roteiro?
Acho que tudo começou com nossa amizade. Glauciene foi minha colega de turma na Comunicação, nos tornamos mais próximas em algum momento do curso. Ela tinha experiência como assistente de direção, tinha inclusive trabalhado em filmes do Rafael Conde. Já o Bassoli conheci quando éramos estagiários do Laboratório de Mídia Eletrônica, o Labmídia, também dentro do curso de Comunicação, sob coordenação da professora e cineasta Patrícia Moran. Quando trabalhei com o Bassoli, me impressionava a sua competência (ele resolvia todos os “paus” nas câmeras e ilhas de edição, passava horas a fio diante dofinal cut e do after effects e fazia coisas lindas que ninguém mais sabia fazer), fora o fato de que era um super amigo. O prazo para finalizar o projeto foi o tempo que faltava para o encerramento do envio de propostas para o tal edital que concorremos. Fizemos as coisas meio às pressas, na verdade.

Qual a trajetória do seu roteiro até a atual produção no curta-metragem em animação?
Primeiramente submetemos o roteiro à Lei Rouanet, sem sucesso. Mais tarde, em 2010, o projeto foi submetido à Lei de Incentivo, na cidade de Porto Alegre, mas no nome de Thiago Franco (que morava lá), que se interessou pelo roteiro e propôs adaptá-lo para animação. Nessa época, Glauciene, Bassoli e eu praticamente não mantínhamos mais contato. O projeto mais uma vez não foi aprovado. Até então, eu ainda tinha intenção de assinar como diretora do filme. Só conseguimos aprová-lo na terceira tentativa – dessa vez, Thiago foi o proponente do projeto para a Lei Municipal de Incentivo à Cultura, em Belo Horizonte. Eu estava num momento turbulento da vida e não tinha condições de encabeçar mais um projeto. Ainda bem que ele teve a disposição de retomar o projeto e fazer essa homenagem ao Scliar. Estou contente com a possibilidade de ver esse projeto finalmente se concretizar!

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